Projeto inovador aplica Inteligência Artificial à biotecnologia
Um projeto da Azores Life Science, em parceria com a Cybermap, a Universidade dos Açores e com o apoio da Google, vai aplicar a supercomputação e a Inteligência Artificial à biotecnologia, para descobrir de forma muito mais rápida moléculas de microorganismos açorianos com potencial aplicação à indústria farmacêutica e cosmética.
É um projeto inovador a nível nacional e pretende acelerar a descoberta das potencialidades de aplicação à indústria farmacêutica e cosmética de moléculas extraídas de microorganismos extremófilos que existem nos Açores.
Desenvolvido pela Azores Life Science, em parceria com a Cybermap , a Universidade dos Açores e com o apoio da Google, este projeto vai recorrer à utilização de um aparelho sequenciador genómico de alta performance, aliado à supercomputação e à Inteligência Artificial (IA), através da análise de grandes quantidades de dados.
Conforme afirma em declarações ao Açoriano Oriental o administrador da Azores Life Science, Miguel Pombo, com o recurso à supercomputação e à IA, “consegue-se fazer em poucas horas um trabalho que, com as técnicas tradicionais, poderia levar anos a investigar na correlação de uma molécula com a sua aplicação terapêutica”.
Com o recurso à IA, explica Miguel Pombo, “em cerca de nove horas, conseguimos identificar cerca de 60 mil péptidos (moléculas) a partir de uma só amostra, que são a base de medicamentos para várias doenças, que são a base de vários suplementos e que são a base de vários ingredientes cosméticos, num trabalho que demoraria alguns anos se fosse feito com os meios tradicionais de laboratório”.
O administrador da Azores Life Science explica igualmente que “temos alguns hotspots nos Açores que concentram bastante biodiversidade e que são únicos a nível mundial”, de que são exemplos as fumarolas ou as fontes hidrotermais.
E com o recurso à sequenciação genómica de alta performance, com uma pequena amostra microscópica, consegue-se fazer a leitura do ADN, ou seja, das instruções genéticas desses microorganismos extremófilos, permitindo verificar que moléculas podem ser utilizadas para tratar uma doença, cicatrizar uma ferida ou permitir uma levedura mais rápida, entre várias outras aplicações industriais.
A Azores Life Science é uma empresa biotecnológica com sede no Nonagon - Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel, na cidade da Lagoa, tendo atualmente oito colaboradores que trabalham repartidos pelo Nonagon, pela Universidade dos Açores, em Ponta Delgada e remotamente, em Lisboa.
A Azores Life Science possui a marca de cosméticos Ignae, pela qual esta empresa açoriana se tornou reconhecida internacionalmente.
No seu percurso profissional, Miguel Pombo trabalhou para uma consultora na Bélgica e nesse tempo, “os nossos clientes já começavam a mostrar interesse em muitos ativos que existiam aqui nos Açores”. Miguel Pombo recorda igualmente que já vieram aos Açores empresas mundiais da área da biotecnologia recolher amostrar que permitiram o desenvolvimento de medicamos ou de produtos cosméticos, “mas com a riqueza a ser gerada lá fora”.
Por isso, o aparecimento de tecnologias de sequenciação genómica de alta performance com o apoio da IA veio permitir a empresas de pequena dimensão, como a Azores Life Science, “começarem a explorar o potencial que a biodiversidade representa para a indústria farmacêutica ou alimentar”, afirma Miguel Pombo, contribuindo desta forma para que este valor “possa ficar na Região”, através da cobrança de direitos sobre a utilização industrial de moléculas descobertas nos Açores.
“E já temos clientes mundiais interessados na informação genética e nos produtos que vamos conseguir gerar a partir deste processo”, revela Miguel Pombo, lembrando que os microorganismos extremófilos “crescem em condições em que não se encontram outras formas de vida, pelo que desenvolveram características únicas para poderem sobreviver e prosperar em temperaturas altas ou em condições extremas de acidez”.
Refira-se que este projeto está a ser desenvolvido juntamente com outra empresa açoriana, esta ligada ao software, a Cybermap, que é parceira da gigante norte-americana Google nos Açores.
Com base nesta parceria, foi possível atrair o interesse da Google para este projeto, que lhe atribuiu uma bolsa de 250 mil euros concretizada através do acesso durante um ano, com extensão para dois, aos recursos de supercomputação em nuvem e IA da Google.
Também em declarações ao Açoriano Oriental, o sócio-gerente e diretor geral da Cybermap, Luís Melo, explicou que a ligação da sua empresa à Azores Life Science vem desde o início da atividade desta empresa biotecnológica, tendo-se conseguido agora aproveitar para os Açores o interesse da Google em apoiar start-ups em crescimento e que tenham sido capazes, no último ano, de atrair investimento.
“A candidatura foi aceite no início de 2024 e, desde então, tem sido uma alavanca muito importante para o desenvolvimento das atividades da Azores Life Science”, afirma Luís Melo.
Quarta-feira, foi celebrado um protocolo com a Universidade dos Açores, com o prazo de vigência de dois anos, para o desenvolvimento deste projeto no Centro de Biotecnologia dos Açores, em Ponta Delgada.
Este Centro irá ter ao seu dispor o sequenciador genómico de alta performance, bem como o acesso às ferramentas de supercomputação com IA, uma vez que, explica Miguel Pombo, “a Universidade dos Açores tem recursos humanos e capacidades de investigação que permitem desenvolver todo o potencial já identificado” dos microorganismos extremófilos descobertos nos Açores.
A Universidade dos Açores vai inclusivamente poder utilizar esta tecnologia noutros projetos, “numa situação que é benéfica para todos, porque vai trazer capacidades de sequenciação e de uso de supercomputação a que a universidade dificilmente acederia, ao mesmo tempo que para nós, enquanto empresa, permite-nos desenvolver novos ativos”, conclui Miguel Pombo.